Entre fantasias, suor e lágrimas, o circo continua um grande espetáculo

Já foi lugar de devaneios, de animais ferozes e de proezas inimagináveis. Ainda hoje, mesmo que longe da sua própria lona, o circo ainda traz alegria e encantamento para quem olha o trapezista, o palhaço e outros artistas que fazem o maior espetáculo da terra acontecer

Repostagem de texto publicado em 18 de março de 2021 no site da Agência Brasil Central – Goiás

O maior espetáculo da Terra. Com essa divisa, a nossa memória é ativada e um grande desfile de personagens e cenas é trazido a luz. Palhaços, malabaristas, mágicos e animais proporcionam vários momentos singulares que são lembrados ou pelo menos narrados afetivamente para a construção de uma imagem do que seria o circo. Mesmo que hoje ele esteja bem diferente de certas imagens popularizadas, como com a proibição do uso de animais nos espetáculos, o circo ainda é muito presente no espetáculo cotidiano da vida.

Origem e personagens

O circo é na verdade um conceito: uma reunião de artistas com diferentes habilidades que viajam entre as localidades para apresentar um espetáculo com várias cenas. Há registros que apontam a existência desses grupos entre egípcios, maias, chineses e romanos. Se as artes que estão presentes no circo datam de 4000 ou 3000 anos antes do presente, a itinerância de “famílias mambembes” é uma característica da Idade Média europeia. Já a organização do picadeiro é bem mais recente, desde os anos 1760, quando iniciam os shows com apresentações equestres, malabares e esquetes cômicas na Inglaterra.

E aparecem para o “respeitável público” shows ao gosto de cada região. O palhaço europeu é distinto do norte-americano ou brasileiro. Aquele trabalhava com a mímica e era muito mais sútil na sua apresentação, já o brasileiro é mais falante e faz uma “comédia corporal”. O circo norte-americano tem uma presença do bizarro e do inusitado, enquanto nos asiáticos a capacidade de pôr o corpo sob pressão, com contorcionismos e provas de equilíbrio é o que encontramos. Em vários deles, a exibição de animais selvagens de terras distantes acabava por ser o elemento que atraía mais atenção do público.

Esforços e medos

Por muitas vezes essa paisagem de espetáculo, riso e deslumbramento não deixa antever todo o esforço e o trabalho que os artistas de circo precisam empregar na elaboração das cenas. São meses de estudo e treinos para conseguir fazer proezas com o corpo. Além disso, o circo e seus artistas são muito marcados pelo preconceito, o medo e a fantasia das populações em relação ao estrangeiro e ao errante. A imagem de uma vida livre, sem amarras com a cidade ou com o cotidiano gerava o desejo nas pessoas de pequenas comunidades de que “fugir com o circo” seria uma solução última para as dificuldades cotidianas Na Idade Média, as pessoas temiam aqueles que circulavam sem destino. Tal medo reverberou até a atualidade, onde nas periferias havia “lendas urbanas” que associavam certos artistas com o sumiço e assassinato de crianças e outros crimes.

Mas também houve lágrimas de tristeza sob a lona colorida dos circos. Estruturas improvisadas ou mesmo ações deliberadas causaram grandes traumas em certas ocasiões. Além de mortes de artistas no picadeiro, por conta de erro de execução dos números ou acidentes com animais, houve casos emblemáticos como o incêndio Hartford Circus, com 169 pessoas mortas em 1944, ou no Cleveland Circus, em 1942, quando mais de uma centena de animais morreram queimados ou precisaram ser sacrificados devido às queimaduras, ambos nos EUA. Contudo o mais mortal de todos ocorreu no Brasil, em 1961, com mais de 500 mortos devido ao incêndio na lona do Gran Circo Norte-Americano que se apresentava em Niterói, Rio de Janeiro, para um público de mais de 3 mil pessoas.

O circo no Brasil – origem e importância

O circo no Brasil ganha força já no Século XIX, com o aumento do fluxo de imigrantes europeus chegando depois da independência. E ele transformou-se em algo que foi muito além do entretenimento, acabou sendo um vetor de cultura muito importante. Sob as lonas de muitos circos, chegavam ao interior e às periferias até bem pouco tempo apresentações teatrais, às vezes até mesmo encenações de histórias clássicas, adaptadas por palhaços e outros artistas e shows de cantores. Em alguns momentos mais restritivos em relação à liberdade de expressão no país, os circos precisavam enviar sua programação previamente para a polícia ou ao censor.

A televisão deve aos picadeiros e seus animadores, sendo que os primeiros programas infantis eram emulações de desses com brincadeiras dirigidas por palhaços, como Carequinha, Arrelia e Torresmo. Foi um deles, o Piolin (nome artístico de Abelardo Pinto, que chegou a ser tido como o melhor palhaço do mundo) que acabou sendo homenageado como símbolo do circo. A data do seu aniversário foi a escolhida para celebrar o dia nacional do circo. Internacionalmente, 27 de março é conhecido como Dia do Teatro, em contrapartida, foi estabelecido em 2010 que o terceiro sábado do mês de abril passaria a ser considerado o “Dia mundial do Circo”.

Vida circense se aprende

As diversas apresentações de um circo exigem destreza e treino. E como várias outras artes, se aprende na academia. O Brasil tem algumas escolas de circo, a mais significativa é a “Escola Nacional de Circo”, fundada em 1982 no Rio de Janeiro. Em Goiás, entre outros temos o Circo Basileu França, criado em 2003, é uma escola administrada pelo governo do Estado. Em 1994 surgiu o Circo Laheto, que é um projeto social que atende crianças e adolescentes.

As artes que o circo congrega encantam as pessoas e ele é tema de um outro sem número de obras de arte, de música a filmes. E buscando criar formas inovadoras de passar a tradição para frente, os artistas circenses vislumbram manter o encanto desse espetáculo ainda mais grandioso. Com ou sem goiabada…

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