Ter opinião não é fazer parte de Torcida Organizada

Esse aqui é uma versão do texto que foi publicado no "O Popular" semanas atrás… Quero aprofundar essa discussão e acho que posso começar por aqui mesmo, não é?

Ter opinião não é fazer parte de Torcida Organizada

O homem é um ser social. Essa característica gera a aproximação de pessoas diante de determinadas concepções de mundo e esses grupos carregam em si um elemento importante para compreender o ser humano: eles querem (e precisam) convencer quem é de fora dele que trazem a melhor alternativa possível para a realidade existente. E eles provam isso. Ou pelo proselitismo ou pela força.

O exemplo mais fácil desse fenômeno são os conflitos entre torcidas organizadas. O estopim pode ser traduzido pela ideia de que se deve “mostrar a verdade” para o outro, mesmo que essa verdade seja o quanto a minha torcida é mais forte do que a sua. Apesar de ter nos espaços esportivos o seu cenário mais comum, esse movimento não tem sido restrito a eles.

Atualmente vemos uma intensa certeza de que estamos do lado da “verdade”, e que ela só pode ser alcançada se o indivíduo compartilhar do “meu” conjunto de ideias. Mas grave do que isso ainda é o passo seguinte dessa “cruzada” pelo “lado correto” das coisas: o indivíduo não consegue afastar seu senso critico da participação ou não a determinado grupo. E isso é reforçado por um maniqueismo que ganha em intensidade na atualidade.

Vemos isso na política, onde os partidos tornaram-se torcidas organizadas. As cores partidárias valem mais que um projeto de comunidade. Os integrantes dessas “torcidas partidárias” parecem funcionar em lógica binária: ou você é pró ao partido, ou é contrário a ele. A critica ao aliado ou o elogio ao adversário coloca você irremediavelmente contra o grupo. Vemos isso na religião, onde as torcidas parecem acreditar que ser de um grupo diferente classifica o indivíduo como digno ou não de ser respeitado, como se o mundo se dividisse em “salvos” e “malditos”. Na verdade, hoje vemos isso em diversas áreas da vida em sociedade que exige algum nível de interação e discussão de ideias.

As pessoas tentam se contrapor a esse movimento utilizando-se dele: ataca-se tudo e todos para romper com “a posição hegemônica” e usando para isso do desrespeito e a truculência, sob a bandeira de uma “opção pela criticidade” ou mesmo como sinônimo de “liberdade de expressão”. Parece que ignoram que essa forma de oposição simplesmente os colocam mais próximos daqueles que são criticados. A capacidade de ter uma “atitude critica” perante o mundo é muito diferente de fazer parte de uma “torcida organizada”.

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