É estranho ser direitista no Brasil, já disse-me um colega. Principalmente se você não faz parte da chamada "Classe AB" pelo IBGE. Isso não quer dizer que o individuo se vincule automaticamente à esquerda (quem me conhece e/ou leu alguns textos meus sabe que não penso isso), mas por alguns "obstáculos metodológicos" que a ideia conservadora-direitista encontra ao se deparar com o cenário brasileiro.
Quero aprofundar essa ideia em próximos textos, mas acho que eu deveria compartilhar antes uma conversa por mail que travei com uma pessoa esses dias. O trocas de missivas é longa. (ops.: tirei os links dos vídeos para não carregar demais a pagina. Se tiver curiosidade, peça pelos comentários) mas deixa antever como é a lógica (ou algo se se valha) das pessoas desse "TeaParty Tupiniquim"

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1ºmail:
Givaldo, me perdõe, mas com essa não dá pra votar NELE (Haddad)
COMO É QUE UMA PESSOA QUE NÃO TEVE COMPETÊNCIA PARA COORDENAR NEM UM EXAME  DO ENEM PODE QUERER SER PREFEITO DA MAIOR E MAIS IMPORTANTE CIDADE DO BRASIL. VAMOS PENSAR DIREITINHO…
ACORDEM PAULISTANOS,  CUIDEM DE SUA CAPITAL E DE SUAS CRIANÇAS!
DIFUNDAM AOS SEUS CORRESPONDENTES DA "TERRA DA GAROA".
(aqui entra um link para um vídeo do Silas Malafaia sobre a sucessão em SP – e sua "obra divina" de "descer o cacete" no PT)

2ºmail (minha resposta)
Ví os 5 primeiros segundos e agora vou conversar com vc.
1) Silas Malafaia falar qualquer coisa sobre SP? Não, obrigado! Esse senhor que acha ser alguma coisa no universo gospel brasileiro é avido por uma unica coisa: poder. Para isso ele manipula e incita o preconceito e a violência. Ele não pode apitar nada sobre São Paulo por pouco (ou quase nada) saber da cidade. Ele, como bom carioca, deveria ter refletido sobre a eleição de lá (não que vc não possa falar da política em geral). O Sr. "Mal Paramento para Igreja" (é muito sugestivo, mas procure o significado de "Alfaia" no dicionário) tem até hoje brigado com todo mundo que apresenta uma opinião divergente da dele (provavelmente me chamaria de imbecil ou idiota), mas ele pega a "palavra de Deus" que supostamente ele prega e aponta para um grupo social – os homossexuais – dizendo que são indignos de ser considerados como pessoas. Esquece que os Deus – e o mensageiro Jesus – que ele diz representar não faz acepção de pessoas como ele faz, nem tentava se envolver em política. Na verdade ele está mais pra "vendilhão do templo" que Jesus expulsou a pontapés de Jerusalém;
2) Esse Sr. "MalParamentoDeIgreja" crê que as pessoas que ele lidera na igreja são suas ovelhas, e que ele pode mandar neles. Ele ignora que as pessoas pensam e que tem visões maleaveis das demandas que hoje se apresentam no mundo. Ele acha que tudo é resumido num "alinhamento automático" e que, por ser ele que está falando, a pessoas vão acatar. Nada mais tacanho e distante do pensamento verdadeiramente cristão;
3) Fui professor durante os governos Alckimin e Serra, sei como é o "modo PSDB de administrar", com intimidação e pressão para acabar com os serviços públicos (e consequentemente com os servidores). Serra, feliz ou infelizmente, estabeleceu uma meta fixa pra si: ser presidente da República. A qualquer custo. São Paulo já sofreu com isso uma vez, quando ele enganou a população dizendo que ficaria os 4 anos de mandado e saindo no meio dele.

Por isso, não vou gastar banda de tráfego para ver um cara que não respeito falar qualquer coisa sobre a cidade que eu amo, por que ele quer arranjar um "despachante" pros desejos de poder dele.

P.S.: O "kit-gay" que ele tanto execra tb foi feito pelo "queridinho" dele, igualzinho…
 pra finalizar, um vídeo pra você refletir também. Veja até o final do discurso do Chalita quando deputado estadual: (link do vídeo)

3º mail (resposta da missivista)
Givaldo eu já imaginava que você rebateria esse assunto com tanta veemência. Tens todo o direito. Estamos num país livre e democrático (por enquanto). Mas não podemos deixar de considerar a VERDADE, nua e crua: esse teu candidato não conseguiu organizar nem um (apenas um) exame do ENEM. Como professor você sabe disso. Ele foi um vexame à frente do MEC.
Quanto ao KIT GAY, o pastor é contra sim e eu também, mas não somos contra um kit anti-preconceito. Isso devia ser criado sim. Ensinando as crianças a conviverem com as diferenças. Aliás no passado não se falava em Kits nas escolas e tudo fluía muito bem. Bastou o PT assumir o poder e esse assunto veio à baila. Mas ser Gay está virando moda e os políticos não podem perder esse tsuname de votos desse segmento, que é muito grande na atualidade.
 Todo mundo sabe a grana que se gastou na confeçção do primeiro Kit Gay, sob a direção do Sr Haddad, montado sim por ativistas gays. Me dê o nome de aenas um renomado especialista em educação componente da comissão que elaborou o famigerado Kit.
Graças à Deus e ao alvoroço causado pelo maluco do Bolsonaro, a Presidente Dilma proibiu a sua distribuição.
Agora vamos ao vídeo. Assisti e discordo totalmente do Senador Challita. Fazer prova ? Sim. Há que se separar o joio do trigo. Há que se valorizar os bons professores. Há necessidade de uma reciclagem. Não basta jogar dinheiro na educação como os governos têm feito. Compra de computadores, notebooks caríssimos que muitos professores desonestos levam pra seus filhos brincarem em casa (isso aconteceu no Rio de Janeiro no governo atual-aliado do PT). Nada disso adianta. É jogar dinheiro fora, e nisso o PT é imbatível. Todos, médicos, engenheiros, políticos, etc, etc, deveriam ser avaliados periódicamente. A OAB não criou o exame da Ordem? Por que? Porque saem advogados das faculdades que não sabem redigir uma petição. VERGONHA NACIONAL. A culpa é dos alunos? Acho que não. E os erros médicos? Que Deus nos livre. Você conhece professores que não dão aulas, matam o tempo. As faculdades estão cheias deles. E não estou me referindo ao ensino público básico. Esse segmento é vergonhoso. As crianças dos colégios públicos vão à escola pra se alimentar. Quase nada aprendem (salvo raríssimas excessões).  Hoje saem profissionais das faculdades sem o mínimo de conhecimento. Todos sabemos disso.
 Todos profissionais deveriam ser avaliados como são os militares. Soube que são avaliados semestralmente. E isso influencia decisivamente nas promoções. O que significa melhor salário.
Reciclar não é humilhar, é valorizar o dinheiro público mal aplicado na educação. Os que se humilham diante de uma prova são os que não querem melhorar na profissão. Pretendem continuar "embromando" os alunos e enriquecendo os cartolas do ensino.

4º mail (minha resposta – final)
Bem…
1º ponto: o que se recicla é lixo… acho que você não pensa isso dos professores (se pensa, por um instante sequer, dispenso que leia o resto do texto ou me faça réplica)
2º ponto: a questão da "netqueta": tipos tão grande tentam me convencer do mesmo modo que esse senhor que acha ser "preposto" de Deus na terra. E eu refuto isso.
3º ponto: o Brasil é e será democrático (conversas como a nossa provam isso, pois não deixariamos nenhuma guinada autoritária mudar isso). Qualquer ilação sobre esse assunto só se mostra isso, uma ilação
4º ponto: o kit do Serra era da mesma ONG que fez o do governo federal. Se não tem especialista nesse, também não naquele
5º ponto: professores devem ser avaliados? sim. Sua possibilidade de melhorar na carreira depende de passar numa prova? Rídiculo. Por dois motivos: primeiro, uma prova é um momento pontual numa carreira. Se eu, quanto professor, fizer apenas uma prova pra avaliar o meu aluno, todos caem em cima de mim por estar errado na minha "concepção pedagógica", pq tenho que ser avaliado desse modo? Segundo: Para o professor receber aumento ele teria que estar entre os 25% mais bem avaliados na prova E (uma particula aditiva) o governo tem que ter a possibilidade de dar esse aumento. Ou seja: mesmo que o professor obtenha o resultado na prova, ele pode não ter sua "recompensa" (como um animal que faz o truque mas não recebe a ração extra).
6º ponto: o problema da educação nunca é da sociedade, do governo ou da família. Sempre é, prioritariamente e preemptoriamente, do professor. Ele que "não se recicla", não se esforça, não dá atenção pro aluno, não isso, não aquilo… VTNC(desculpe) mas é muito fácil apontar o dedo pro camarada que pode "investir" 60 horas semanais em sala de aula e o resto da semana em preparação de aula, reuniões bur(r)ocraticas, correção e elaboração de provas e trabalhos… ops, pra que dormir, comer ou "pensar fora da caixa", né? A estrutura que SP tem privilegiado nos últimos 20 anos(!) é a de colocar o professor como o rendentor e o causador de todos os males da educação (nota: eu fui professor nos governos Alckimin e Serra – Esse ultimo na prefeitura e no estado – e posso falar do processo por dentro)
7º ponto: A OAB tem prova? sim. Pq? Para regular a quantidade de advogados no mercado. Afinal, com tanto curso de direito no mercado, é mais fácil ser bacharel de Direito do que mecânico. Agora: e licenciaturas? temos déficit de professores de matemática, física e química. Áreas que podem questionar o mundo ficaram tão politicizadas que quem "pensa fora da caixa" é expulso ou cooptado mais rápido do que vc pode dizer "paralelepípedo de Paranapiacaba"
8º ponto: Falar que a educação básica (ou a universidade) não ensinam nada, que os alunos só vão pra se alimentar e outras coisas semelhantes, não é mentira, nem exagero. Mas é desconsiderar o trabalho dos bons professores. Que estão lá (e eu ví muitos que gostavam e se esforçavam, a despeito de tudo e todos). Nossas escolas são fracas em vários sentidos – as públicas e as privadas – pois as coisas que a sociedade espera delas é simplesmente "empurrar goela a baixo" um conjunto de dados pra passar no vestibular. Professores que pensam diferente não são valorizados e são extremamente pressionados. O sistema educacional acha que dar aula é ficar 50 minutos passando texto, servindo de babá e carcereiro e no final apresentar notas altas. Isso não resolve! Os professores se adaptaram a essa vergonha e muitos não tem força, ânimo ou interesse em mudar pra poder se manter na estrutura. Mas a sociedade (ou parte dela) acha que a solução é pegar esse professor, "crucificá-lo em praça pública" e trocar por outro "mais eficiente", que cumpra os "preceitos" dessa "educação para o des-envolvimento" (o hifem é proposital).
9º ponto: Mais uma vez você aponta os militares como exemplo de conduta. Apesar de respeitá-los e achar que eles atendem demandas importantes, o modo de ver o mundo deles é direcionado. A maleabilidade exigida pelo mundo atual muitas vezes não é contemplada pela visão do mundo deles. Eles são ótimos para construir liderados e lideres pontuais. Só avaliar é a mesma coisa que fazer exames e não tratar a doença, não garante que se resolva nada. E a construção do ser humano? Com suas variaveis possiveis? Vai pra onde? Todo mundo tem que estar no molde da personalidade militar? Não sei se essa é o melhor dos mundos possiveis (creio que não)
10º ponto (final): sabe quem enriquece na educação? Donos de universidades particulares e diretores de escola – indicados por políticos. Professores que não se encaixam nas duas categorias anteriores não enriquecem, sobrevivem na base do empréstimo, do controle financeiro e do carnê de prestações a perder de vista…

Assim sendo, considerando a sua resposta (questão gráfica, conteúdo e fundamentos), as referencias que usa (se é que o Silas "MalParamentoDeIgreja" pode ser considerado referencia de algo que não seja preconceito e bobagem) e as ideias expostas (particularmente no ultimo parágrafo), acho que temos um debate irreconciliável. Não acho que o Haddad seja a melhor pessoa do mundo para administrar SP, mas o Serra também não tem se mostrado um exemplo de "homem republicano" (no sentido de lidar com o diferente).
Só pra finalizar: a educação básica, na sua raíz, não tem quase nada a ver com os maus profissionais que saem das universidades. A má educação básica produz pessoas ruim no cotidiano. A faculdade, que teoricamente quer formar o profissional, tem que lidar com demandas muito diversas, e o relaxamento de muitos alunos que acham ser "dever da universidade" formá-los…