A carregar agora

Entre o a imagem construída e a imagem sentida

Na sociedade atual podemos ver uma valorização significativa das sensações. A busca pelo prazer tornou-se bandeira e lema, o que, juntamente com a velocidade empreendida pelos novos engenhos advindos da revolução tecnológica que teve nos últimos 30 anos do século XX seu instante mais pródigo, gerou nas pessoas uma corrida que beira a esquizofrenia. Segundo esse “paradigma” difundido amplamente nas ideias e percepções cotidianas, sempre devemos buscar mais e maiores sensações de satisfação.
Essa primeira afirmação pode ser comprovada por diversos meios. Da produção intelectual até o simples caminhar por uma rua central da cidade faz perceber essa dinâmica. No cinema isso não seria diferente.
Tive a oportunidade de assistir “Gonzaga”, filme de Breno Silveira, e refletir sobre como as sensações mais intimas podem afluir diante de uma produção artística. A despeito de não ser uma “filme de arte” ou mesmo se inserindo no que os teóricos gostam de chamar de “cinema clássico” (muitas vezes até com certo ar pejorativo), o filme atende, pelo meu ponto de vista, aquilo que dele se espera.
Ao contar a história de dois músicos importantes da história brasileira, sendo um deles folclorizado com sendo “o rei do baião”, o diretor lida com dois “Brasis” que se encontram, muitas vezes “batendo cabeça” sem entender se são complementares, paralelos ou antagônicos.
Como conto biográfico, ele dá ar de realidade ao que antes estava apenas em letras, contos e relatos. Memórias fugidias que fez parte da historia de grande parte das últimas 3 gerações brasileiras.
Meu “lugar de fala”, exposição tão ao gosto dos acadêmicos, está situado no interregno entre sertão e cidade, seca e enchente, Norte e Sul. Filho de migrante, ví nas cenas ali apresentadada a construção não só da história do artista, mas de tantos outros que viram na saída da sua terra uma solução para a dura realidade.
Vi nas cenas um sertão que conheci, sem luz, sem água e com dificuldades mil, Da estrada de cascalho e dos tangerinos. Mas vi também nas cenas do morro um espaço conhecido, pois toda periferia de cidade se parece. Ver “Gonzaga” foi muito mais que descobrir fatos novos da historia de um artista que fala muito profundamente pra mim. Foi também retomar o contato com algo mais profundo comigo, resgatando algo que comparece em mim e também que resgatam um Brasil profundo, que mesmo escondido, continua existindo na sociedade brasileira, nos morros ou na periferia das cidades interioranas ou nos centro das grandes áreas metropolitanas. Todos temos um pouco desse mundo representado em Gonzaga, mesmo se saber.

Publicar comentário