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Um bilhete por caridade…

O cotidiano pode nos pregar pequenas peça que, se tomadas nas devidas proporções, podem nos levar a refletir sobre como nos posicionamos no dia-a-dia diante desses incidentes. Goiânia é uma cidade com um sistema de transporte ruim. Se para qualquer cidade isso é mal sinal, para uma capital o grau de impacto disso na vida das pessoas é ainda maior.
Mas dizem que somos adaptaveis. E essa é uma caracteristica humana de especial valor num cenário desses.
Os goianienses se acostumaram com uma aberração no sistema de ônibus (que não deve ser exclusividade daqui, mas é particularmente extenuante) que é a ausência de cobradores nos veículos. Essa  ausência em si não é a caracteristica que efetivamente se mostra bizarra, mas sim o conjunto derivado dela. Os ônibus goianienses recebem exclusivamente bilhetes comprados previamente pelo usuário, com valores correspondentes a 1 ou 2 viagens (debitadas por um validador mecanico) ou smartcards com valores depositdos em pontos de vendas espalhados pela cidade. Caso você não tenha o tal bilhete ou saldo no seu smartcard, o motorista não poderá fazer nada além de parar em algum lugar para você (e possivelmente outros passageiros) comprar o bilhete (pois geralmente não há bilheteiros nos pontos, no máximo vendedores ambulantes que podem ter bilhetes). Receber em dinheiro? Não é permitido (um ou outro motorista oferece a gentiliza, mas sem autorização oficial). Moedeiros para liberar a catraca? Nem em sonhos. Por fim, se você estiver num bairro distante, ou num dia de chuva pela cidade, a unica alternativa será pedir aos passageiros do outro lado da catrata para, por piedade, lhe venderem um bilhete.
O curioso é que essa saida é muito utilizada para solucionar o problema de não haver meios de se pagar a passagem. Oras, nem sempre encontramos um vendedor ambulante que tenha bilhetes, ou compramos todas as passagens necessárias antecipadamente (afinal é um valor alto para se investir numa só solução, quando não se utiliza com frequencia esse transporte e nem sempre sabemos quantas viagens faremos daqui 2 semanas, por exemplo). Pode ser que quem tenha “passagem sobrando” não queira vender ou não se tenha dinheiro trocado.
Esses dias presenciei tal cena – quase uma esquete de teatro: a passageira, “presa” antes da catraca, fazia seu pregão a cada novo embarque de passageiros: alguem tem uma viagem pra vender? A resposta negativa ia levando-a para uma situação complicada: estava chegando a sua parada e não poderia desembarcar por estar embaraçada junto a catraca, com dinheiro, mas sem passe. Por fim achou um que, seguindo a regra do mercado (de oferta e procura) ofereceu a solução: uma viagem,  por duas vezes o valor corrente. E a moça,  espremida entre perder o ponto e viajar por toda a linha novamente, investindo mais 1 ou 2 horas do seu descanso, tentando obter a passagem ou aceitar a proposta “tentadora” do outro viajante, optou pela segunda.
Mas essa é apenas mais uma cena do cotidiano, que mostra como nos acostumamos e nos adaptamos às coisas mais estranhas.  Será que não seria possível questionamentos sobre isso e obtermos soluções melhores do que essas?

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