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Tendências e idéias

Olá pessoal!
Como eu não pude divulgar esse texto no Jornal do Tocantins (segundo eles, por excesso de palavras, não cabia no projeto gráfico deles), vou divulgá-lo aqui, que é sem limites… Mandem comentários, certo?

“Esse é um país que vai pra frente” ou “Das ironias da História”

A semana que terminou teve uma notícia que repercutiu de forma significante entre os meios de comunicação brasileiros: a (pretensa) escolha do presidente brasileiro como “O” político mais influente do mundo numa lista de 100 personalidades publicada pela revista Time dos EUA. Posteriormente a revista divulgou uma nota dizendo que não distinguia a importância da influência entre os 100 elencados na lista. Contudo a primeira lista divulgada por ela não era em ordem alfabética e trazia uma numeração (de 1 a 100) ao lado dos nomes apresentados. Indiferente a essa pequena polêmica, algo chama a atenção: a inclusão do líder tupiniquim entre os bambas do mundo atual. E mais significante ainda dessa história é que não foi a primeira vez que isso ocorreu. Em 2008, jornais europeus já colocavam o mandatário brasileiro no topo de listas desse tipo.

Além dessas citações – que por si só são mais simbólicas do que efetivas – podemos observar uma mudança no perfil de atuação das autoridades brasileiras no cenário mundial. Temos opinado – e por vezes até somos ouvidos – em temas diversos como a crise econômica, diplomacia, ajuda humanitária e comércio. Nossos representantes têm sido líderes em fóruns internacionais, capitaneando discussões que influenciam a vida de milhares de pessoas. Basta lembrar que a existência do G20. Ainda na área econômica, por mais exagerado que isso possa parecer, temos um movimento que poderíamos “apelidar” de “Imperialismo tupiniquim”, pois muitas empresas brasileiras – ou que tem grande parte de sua administração e ativos nas mãos de brasileiros – estão tornando-se “global players”. Podemos citar, nesse contexto, Petrobrás (que tem investido pesadamente na África e na América Latina), Vale, Marcopolo (carrocerias de ônibus vendidas para América e Europa), Alpargatas (com havaianas calçando inclusive artistas holywoodianos), Inbev (empresa belgo-brasileira que tem lançado marcas nacionais em vários países, além de comprar marcas internacionais como a tradicional Budweiser americana). Para completar o cenário, podemos apoiar nossos comentários em “estudos” de grandes agências de inteligência do mundo (como a CIA, dos EUA) que apontam para uma ampliação da importância do Brasil dentro do cenário mundial dentro dos próximos anos, qualificando o país a figurar entre as 5 grandes potências do mundo dentro de mais 10 ou 15 anos (apesar desses estudos serem tão exatos e acertarem suas previsões na mesma proporção que o consegue uma cigana eletrônica acessada via Internet).

Tudo isso que foi apresentado não tem acontecido por acaso. Tão pouco ocorre apenas por empenho do atual presidente. Esse cenário que põe o Brasil como sendo um país “de 1ª grandeza” no tabuleiro internacional tem sido preparado a mais de 40 anos. Para os menos atentos ou informados, há 40 anos, o Brasil estava vivenciando um dos períodos mais cruéis de sua história: O Regime Militar. Nesse período houve uma centralização das decisões econômicas e políticas, houveram diversas violações dos direitos individuais, o aprofundamento da desigualdade social, o endividamento externo do país no FMI, além da completa negação da democracia em quanto instrumento de organização da sociedade. Tudo isso gerou o que convencionou-se chamar de “década perdida”, – os anos 1980, mas que poderíamos estender, em alguns casos, até a década seguinte – e uma série de problemas e conflitos verificados posteriormente e que comparecem até a atualidade.

Mas foi também nessa época que ganharam destaque indivíduos que passaram a desenvolver uma visão de longo prazo para a economia nacional. O General Golbery Couto e Silva (1911-1987), em seu livro “Geopolítica e poder” traça uma série de condições e estratégias para que o Brasil fosse na direção de tornar-se uma potência (se não mundial, pelo menos regional, sob os auspícios dos EUA). A visão estratégica que se desenvolveu juntamente com a percepção de necessidade de equilíbrio de forças fazia com que ele negociasse com o governo e a oposição – sendo por isso um interlocutor privilegiado do período – sem perder o foco do que, segundo ele, era o mais importante: a ordem e o progresso. A despeito da discussão do quando o regime militar foi bom ou ruim para o país (e deixo minha opinião particular: foi muito ruim), a estratégia apresentada pelo Gen. Golbery semeou pelo país iniciativas e empresas que serviram como espaços privilegiados para aproveitar-nos das mudanças geopolítica e econômicas levadas a cabo nos últimos anos . A grande ironia da história é que se os generais-presidentes não conseguiram implementar essas ideias de forma efetiva (quase levando o país a bancarrota), quem se notabiliza por “colher” os dividendos do pensamento de Golbery é um líder que ele combatia (lembremos que Lula foi preso nesse período).

Na economia, além dessas ponderações, o clima externo favorável garantiu o impulso necessário para que o Brasil ganhasse destaque internacional. Atualmente a ordem bi-polar (EUA e URSS) perdeu sua importância para a ordem multipolar onde, países antes pouco significativos, passaram a ser detentores de importância estratégica, não mais como apenas zonas de consumo, mas também como exportadores de bens manufaturados e conhecimento.

Esse conhecimento, para ser obtido, necessita de investimentos pesados e duradouros. Programas/ações que tenham a longevidade de um governo só tendem a dificultar as coisas para que possamos nos consolidar como potência. Investimos muito pouco em cada aluno e em cada professor. Acredita-se que apenas uma contrapartida monetária é suficiente para os docentes e que os alunos precisam apenas de cadeiras e mesas. Pensa-se na demanda, do modo semelhante ao que um empresário, mas não se pensa em qualidade. São 4, 5, 6 horas de aula, mas essa aula serve para quê? Como podemos garantir que essas horas, que são importantes em quantidade, sejam importantes também em qualidade? É possível ao professor atender as necessidades do aluno? E suas próprias necessidades?

Não é necessário afundar o Estado como os presidentes militares fizeram em escala nacional, mas crer que ações pontuais atenderão as exigências do mundo globalizado e competitivo dos próximos anos é afastar-se da função primordial do Estado: garantir uma estrutura que ofereça suporte ao bem estar da sociedade ao longo do tempo. Talvez olhando para esse exemplo, nossos líderes (regionais ou nacionais) poderiam estabelecer um projeto de longo prazo para a educação e lançar as sementes, não esperando colher seus resultados desse trabalho já no próximo verão/ENEM, mas sim tentando vislumbrar isso como processo, onde, no futuro, independente de quem estiver no poder, poderemos nos favorecer efetivamente dos frutos dessa visão, tendo melhorias na vida de todos




Givaldo Jr.
educador e historiador
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