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Retomando as raízes: Contando uma história

Remexendo meu bau de lembranças, encontrei uma pequena história oriental que tive contato a algum tempo atrás, a 3 ou 4 presidentes da República, se não me engano.

Na época, não me pareceu tão significativa, mas hoje, devido uma série de contatos e papos, a história me parece saborosamente significante. Assim, exercitando meu claudicante gosto por escrever, passo aqui o que me lembro da história, e um pouco de sua exegese.

“A algum tempo, num templo escondido por trás das montanhas, um discípulo vindo das terras do ocidente estava sentado em frente de seu mestre, depois de dias meditando sobre a vida e o Zen. inquieto com o silêncio do templo e com duvida fermentadas por dias de pensamento fixo – as vezes dispersado, é verdade, por lembranças de sua terra e dos entes queridos que ficaram lá – o discípulo viu naquele momento a possibilidade de saciar sua sede de compreensão com o mestre, que muito gentilmente lhe chamara para tomar chá.

E, não podendo perder essa oportunidade, o discípulo questionava o mestre. Mesmo que evitasse parecer ansioso pelas respostas e com as perguntas que elas suscitavam a seguir, não havia com esconder isso. E suas perguntas eram abundantes como o vapor que saia da sua xícara de chá.

O mestre, ouvindo aquela avalanche de questões, apenas se mantinha em silêncio. E isso deixava o discípulo triste, porém mais ansioso ainda com a resposta. Ao invés de responder, o mestre olhou para o discípulo e disse: “Vamos beber vinho. Pegue aquela garrafa que está sobre a mesa e nos sirva.” O discípulo então se levantou, pegou a garrafa e começou a procurar por taças, ou qualquer outra coisa na qual pudesse servir o vinho. “Não” disse o mestre “Beberemos nas xícaras”.

Confuso, o discípulo então pegou a xícara do mestre e jogou o chá fora. Fez o mesmo com a dele e começou a servir o vinho. Ao sentar-se novamente, o mestre questionou: “Por que jogou o chá fora?”. “Ora” disse o discípulo “seria impossível por o vinho sem esvaziar a xícara”. O mestre assentiu com a cabeça e disse “Do mesmo modo, não é possível compreender nada novo na vida se você não esvaziar a sua xícara. Ela transbordará e o que sobrar dentro dela será impossível de beber”.

Uma última questão o discípulo fez: “então devo esquecer tudo que sei?” E o mestre disse “como você distingue o vinho dessa xícara de uma simples água com tinta? Você já sabe o que é cada coisa, mas não precisa tê-las o tempo todo. Precisa saber usar o que tem, sem que isso impeça de você adquirir algo novo, e criar uma terceira coisa. Diferente de tudo. Sua xícara deve estar sempre vazia, mas sua língua nunca deve estar queimada…”

Lembrei desse texto por que vejo que muita gente ultimamente ou está com a língua queimada e não percebe o “gosto” das coisas que apresentam pra elas, ou não esvazia a xícara, e só pode ficar com o chá, sem experimentar coisas novas, ou ,o que é pior, mistura chá, café, vinho e água e acredita que isso é a melhor das coisas que existe.

As pessoas acham que a radicalidade serve como parâmetro para o mundo que está dentro de nossas casas e de nossas vidas. O doutrinarismo que essa ação exige impede que se compreenda o outro, mesmo que não se concorde com ele. Outros acham que um conhecimento massivo (um pouco de tudo, enciclopédico e/ou wikipédico) pode impedir deles de ter que tomar uma posição, um lado. Não tomar partido nenhum é tão arriscado quanto fechar posição sem reflexão alguma. É misturar chá e vinho e achar que é uma delícia! E a pior das três situações é estar com a língua queimada, aceitando qualquer coisa, “apitando no grito” como se diria no futebol.

A opção-ação tomada diante do mundo segundo a história, é tão radical quanto o mais tolerante dos homens e tão maleável quanto o mais resoluto dos idealistas.

É um bom desafio para os próximos embates da vida, não?

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