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The Mimimi Herald e o inferno de lidar com outros que não lidam com outros.

Certo dia atrás um amigo, refletindo sobre certos problemas de convivência corporativa, me ofertou o conceito de “democratite”.
A democratite diagnosticada por esse meu amigo está mais para uma prática de esquiva do que efetivamente um desejo de democratização das práticas sociais.

Sob a alegação de buscar defender a participação de todo e qualquer “player” em uma discussão, tomada de decisão ou descrição de um cenário, temos presenciado um grande festival de “emcimadomurismo”, ou pior: a defesa de qualquer opinião contrária ao “mainstream” por conta apenas dela ser “do contra”. É o “mimimi Herald” que tem nas redes sociais a sua melhor e mais profícua plataforma. (Talvez alguém aponte esse texto como mais um exemplar dessa linhagem. E é possível que esteja correto. Mas darei a mim mesmo a indulgência do direito à dúvida).
Penso que o conceito não seja dele. Creio firmemente até que seja algo mais ou menos antigo, posto ser derivado de reflexões mormente comuns. Mas não pensem esse é um problema apenas dentro do mundo do trabalho, tão pouco que o antônimo de democratite (e talvez a sua cura) seja o autoritarismo. Nada mais distante da verdade!
Tal enfermidade parece algo como a continuação da querela entre antigos e modernos ou mesmo o embate entre apocalípticos e integrados. Estabeleceu-se uma forte e cristalina lógica binária: ame ou odeie, apoie ou renegue, etc….
Como disse antes, a democratite não é o oposto do autoritarismo. Talvez possam até serem vistos como parceiros, por conta de algo que é difícil a ambos: compreender que sua proposta nem sempre será a “vencedora” de um debate (mesmo essa percepção me parece fadada ao fracasso no atual cenário intelectual). O democrático compreende isso e tenta, quando sua proposta não é acolhida, propor melhores formas para alcançar seu objetivo, assumindo também responsabilidades quando o que propôs não se mostrou factível ou oferece os louros da vitória quando reconhece que uma proposta alheia é boa e alcança um objetivo válido.
Os acometidos dessas duas doenças (autoritarismo e democratite) não conseguem lidar com o outro – seja no âmbito das ideias, seja no campo da convivência. E acabam fazendo da convivência social um cenário de guerra, um inferno na terra.
Por fim, o diálogo só pode tomar forma – possibilitando crescimento e difusão de (novas) ideias – quando se muda o modelo/paradigma que sustenta a “percepção de mundo”. Se continuarmos achando que é a dualidade certo-errado, ganhador-perdedor, a qual alimenta ambas as “doenças”, é o modelo adequado para as relações humanas e/ou institucionais pelo mundo afora, estaremos semeando um cenário onde o embate é mais valorizado do que a solução dos problemas, rompendo com qualquer perspectiva de convivência e possibilitando sempre e tão-somente o embate, a incompreensão e, no fim, o mal-estar coletivo…

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