Mea culpa. Mea maxima culpa.
E é um texto muito feliz na percepção sobre o “surgimento dos monstros-comentadores-apostolos das Redes Socias”. Vale a pena registar
———————————————-
Ontem descobri um sujeito terrivelmente babaca no Twitter. Agressivo, descontrolado e desrespeitoso, ele bloqueou meia dúzia de leitores que tentavam apenas argumentar certa questão e, como se não bastasse, usava palavras como “canalha” e “estúpido” para se dirigir a pessoas que, certas ou não em suas defesas de certos argumentos, ele simplesmente não podia conhecer a ponto de determinar seu caráter ou inteligência.
E o pior é que os pontos de vista que ele defendia poderiam facilmente ser debatidos com calma e sensatez, já que ele contava com amplas fontes para embasar sua posição. No entanto, ao entregar-se à histeria e à grosseria, ele conseguia afastar até mesmo aqueles que concordavam com sua defesa.
Pensei que adoraria dar um block, unfollow ou bani-lo de minha tilmeline. Mas não podia fazer isso.
Porque o babaca era eu.
Nunca é um dia fácil quando você se dá conta de que não é a pessoa maravilhosa que gostaria de acreditar ser.
No entanto, já há algumas semanas que venho me transformando na Internet em um indivíduo que, se eu mesmo conhecesse, iria abominar. Como isto aconteceu? Quando virei esta criatura raivosa, antipática e impulsiva que não parece entender que “imbecil” não é vírgula para pontuar argumentos e discussões?
E por que permiti que isto acontecesse?
Em parte, a resposta é óbvia: ego. É bom se reconhecer o dono da razão e julgar-se mais inteligente que os outros – e ser confrontado por pessoas que simplesmente não aceitam sua “genialidade” e se atrevem – sim, atrevem! – a questionar suas posições não é fácil.
Como poderia, se aceitar a possibilidade de estar errado me levaria a descer do pedestal de senhor da razão que construí com tanto cuidado para mim mesmo?
Já outro fator da equação é a pura exaustão. A Internet se transformou num palco de contínua discussão. TUDO se torna debate. Doze pessoas são mortas por terroristas, mas manifestar apoio a elas subitamente se torna APOIAR O RACISMO (em caixa alta). Certas doenças já erradicadas retornam graças à insistência de vários pais em não vacinar seus filhos, mas condenar esta atitude é DESRESPEITAR A DECISÃO DOS PAIS. Publicar a foto de sua gata é FALAR MAL DOS CACHORROS!
E assim por diante.
Posso publicar absolutamente qualquer coisa aqui ou no Twitter e sei que, em poucos minutos, aparecerá alguém manifestando intensamente uma posição contrária – mesmo que meu post original não tenha sido uma “tomada de posição” ou mesmo algo aberto a controvérsia. Frases como “o jornalismo precisa ser responsável” já foram respondidas com “CENSURA NÃO!”.
Aos poucos, se não há um cuidado para evitar o desgaste emocional e mesmo da paciência, chega o momento em que VOCÊ se torna o sujeito escrevendo em caixa alta e respondendo desproporcionalmente a mensagens inocentes, confundindo provocações de trolls com comentários perfeitamente válidos feitos por pessoas bem intencionadas.
Junte os dois fatores (ego + exaustão) e se transformará num idiota.
—————————-
Costumo dizer que tenho os melhores leitores do mundo. E tenho. Não porque amam tudo que escrevo, mas porque são carinhosos quando preciso, mas também críticos quando mereço.
Assim, quando pessoas que você SABE que te acompanham há um bom tempo começam a manifestar decepção com seu comportamento, seria preciso ser muito burro para ignorá-las.
E posso ser estúpido, mas não sou burro.
Além disso, não é preciso ser particularmente autocrítico para ler algumas de minhas interações recentes em redes sociais e notar o descontrole e a grosseria.
Claro: eu poderia me esconder atrás de um “eu sei que sou um cara legal. Não perfeito, mas legal. Boa pessoa, até”.
Mas seria mentira. Porque você É como você AGE. Não adianta ter boas intenções, um bom caráter ou o melhor coração do mundo se, no dia a dia, suas ações são a de um cretino arrogante, estúpido, impaciente, egocêntrico e desrespeitoso.
Aja desta maneira e, bom, queira ou não, terá que assumir que você É um cretino arrogante, estúpido, impaciente, egocêntrico e desrespeitoso.
E me recuso a ser um. Fui criado melhor do que isso. E não sou um animal irracional que pode se esconder atrás da incapacidade de autoanálise para justificar seu comportamento.
Somos como agimos. É hora de voltar a agir como um ser humano decente.
Publicar comentário