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Estacionamento como cativeiro da vida

 O mimimi do momento na internet e nas redes sociais de Goiânia é o preço que o “shopping de Goiás” quer que o cliente desembolse para poder deixar o carro no seu rico estacionamento e gastar nas suas lojas. Existe proposta de boicote, existe campanha em favor dos outros “centros de compras” da cidade, existe muita reclamação, existe para os consumidores uma sensação de desdém dos administradores do estabelecimento por eles, mas até o momento não existe, nem de perto, uma discussão mais detida sobre o problema.
Eles cobrarem o mesmo que um lanche para que você tenha o direito de sair do estacionamento deles não é o problema quando você se encontra numa sociedade de “livre concorrência” (piada boa, né?). Existem outros lugares que você pode ir, pagar (menos) para deixar o carro e para comprar.

A grande questão, e dessa ninguém fala, é o movimento geral da sociedade, que valoriza esses espaços privados, confundindo-os com espaços públicos e abandona os espaços verdadeiramente públicos. É a valorização do espaço privado e privatizado, o transporte individual que ocupa a cidade em detrimento da possibilidade de mobilidade coletiva e a morte do espaço aberto do comércio de rua que motiva essa visão do mundo. O shopping center é uma especie de “cidadela fortificada”, onde só os que são autorizados podem entrar. Aqui a gritaria está contra o preço do estacionamento, em São Paulo é o rolezinho que faz os frequentadores ficarem desesperados. Porque não olhamos mais o comercio de rua, que você pode ir de ônibus, que pode integrar cidade e lazer, parque e comércio, abrindo espaço para todos e que obriga a todos – sociedade civil e governo – se mobilizar para que o foco se dê ao conviver, dando soluções para os problemas e usufruindo dos resultados.
Se a indignação pela extorsão que é o preço do estacionamento também alimentasse o questionamento sobre o por que a “Rua do Lazer” está abandonada, por que os veículos do sistema de transporte coletivo estão se parecendo (mais do que nunca) com navios negreiros e por que temos tanto medo de viver na cidade, se refugiando nesses pseudo-oásis de segurança chamados de Shopping Centers, então poderíamos começar a reconquistar a cidade e a vida que ela representava no passado da humanidade e que gerou pensadores, artistas, inventos e, em última instância, a sensação de liberdade que era o porque de ser da urbis desde sua origem.

1 comentário

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Prof. Me. Pedro de Abreu

Concordo amigo, em gênero, número e grau. Parabéns pela matéria!

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