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“Esse é um país que vai pra frente” ou “Das ironias da História” – Republicado/revisto

Já escrevi sobre isso antes, mas sempre gosto de retornar ao assunto…
Ultimamente podemos observar uma mudança no perfil de atuação das autoridades brasileiras no cenário mundial. Temos opinado – e até somos ouvidos – em temas diversos como economia, diplomacia, ajuda humanitária e comércio. Temos liderado fóruns internacionais, capitaneando discussões importantíssimas. Por mais exagerado que isso possa parecer, temos o que poderíamos “apelidar” de “Imperialismo tupiniquim”, pois muitas empresas brasileiras – ou que tem grande parte dos ativos nas mãos de brasileiros – estão tornando-se “global players”. Para completar o cenário, “estudos” de grandes agências de inteligência do mundo (como a CIA) qualificando o país a figurar entre as 5 grandes potências do mundo dentro de mais 10 ou 15 anos.

Tudo isso não é por acaso. Nem ocorre apenas por empenho dos últimos mandatários. O que põe o Brasil como sendo um país “de 1ª grandeza” no tabuleiro internacional tem sido preparado a mais de 40 anos. Nesse período, estávamos vivenciando um dos períodos mais cruéis da história: O Regime Militar. Houveram problemas de toda ordem: centralização econômica, violações de direitos individuais, aprofundamento da desigualdade social, endividamento externo do país, completa negação da democracia. Tudo isso gerou o que chamamos de “década perdida” – os anos 1980, que poderíamos estender, em alguns casos, até a década seguinte – e uma série de problemas e conflitos existentes até hoje.

Mas foi nesse período que ganharam destaque indivíduos que passaram a elaborar uma visão de longo prazo para o país. O General Golbery Couto e Silva, em seu livro “Geopolítica e poder” traçou uma série de e estratégias para que o Brasil pudesse tornar-se uma potência (pelo menos regional, apoiados pelos EUA). Indiferente a questão se regime militar foi bom ou ruim (e deixo minha opinião particular: foi muito ruim), a estratégia apresentada por Golbery semeou pelo país iniciativas que permitiram aproveitar as mudanças político-econômicas dos últimos anos. A grande ironia da história é: os generais-presidentes não conseguiram implementar essas ideias de forma efetiva (quase levando o país a bancarrota), os presidentes da “oposição” ao regime tiveram que lidar com os efeitos da “década perdida”, com suas crises inflacionárias e debilidade estrutural do pais e quem se notabiliza por “colher” os dividendos do pensamento de Golbery foi um líder que ele combatia.

Na economia, além dessa preparação, o clima externo favorável garantiu o impulso necessário para que o Brasil ganhasse destaque internacional. Observe-se a importância para a ordem multipolar onde países antes periféricos passaram a ser detentores de importância estratégica, não mais como apenas zonas de consumo, mas também como exportadores de bens manufaturados e conhecimento que, para ser obtido, necessita de grandes e duradouros investimentos. Ações que tenham a longevidade de um governo não atendem o cenário atual. Investimos pouco em cada aluno e em cada professor. Acredita-se que os problemas da educação se resolvem somente com salários e material. Pensa-se na demanda, mas não se pensa em qualidade. 4, 5, 6 horas de aula, mas essa aula serve para quê? Como podemos garantir que essas horas sejam importantes em qualidade e em quantidade? É possível ao professor atender as necessidades do aluno? E a suas próprias necessidades?

Não é necessário afundar o Estado como os presidentes militares fizeram. Não devemos criar um estado intervencionista e ideologizado também. Mas, crer que ações pontuais atenderão as novas necessidades é afastar-se da função básica do Estado: garantir o bem estar da sociedade ao longo do tempo. Olhando para o exemplo de Golbery, nossos líderes poderiam estabelecer projetos de longo prazo para a educação, não esperando colher seus resultados desse trabalho no próximo ENEM, mas sim tentando entender que isso, como processo nos favorece efetivamente, tendo melhorias na vida de todos, independente de quem esteja no governo.

Hoje, pode ser que a maré vire, e vejamos como a economia do país ainda é frágil. Mas uma coisa é bem certa: Criou-se uma massa critica que tende a exigir, se não mudanças, manutenção na estrutura que tem favorecido grupos que por muito tempo foram lançados fora, deixados de lado. Sem partidarismos, é o esperamos…

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